quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Capítulo 6 - de anjo a homem

Depois daquele trágico dia de um beijo PEDIDO, André ficou ligando todos os dias sem descanso... Exatamente às 16 horas o telefone tocava, meu celular vibrava assim como meu sangue esquentava de tesão, não dele mas pelo usar, o usar que eu tanto necessitava.

Resolvi sair de casa, peguei meu casaco e fui andando nessas ruas vazias perto de casa. Fui até o posto de gasolina mais próximo e entrei na loja de conveniência, vi alguns homens me olhando. " Oportunidade perfeita " pensei logo. Comprei alguns chocolates e um refrigerante. Enquanto saia , dei uma olhada para trás, os 3 homens tinham sumido, estranhei, mas continuei meu caminho. Abri o refrigerante, DROGA, essa merda derramou na minha camiseta ... Enquanto eu limpava... senti uma mão tocando meu ombro

- Quer uma ajuda gatinha ? ( Era um daqueles homens )
- Não.
- Eu posso dar outra coisa pra você limpar
- Por que você não vai estudar um pouco em vez de ficar repetindo a mesma conversa para qualquer vagina que passe por perto ?
- Porque eu quero você.

Então os 3 homens estavam me rodeando, eu não tive medo... na verdade não tive nenhum medo... eles começaram a pegar no meu pescoço.. no meu cabelo, na minha coxa...Eu ? Eu fiquei quieta, torcendo para que um deles olhasse em meu olho. O ódio começou a tomar minhas veias... eu sentia meu corpo quente demais para eu conseguir suportar, minha consciência ? Essa estava muito bem salva entre minha raiva.

Os três me obrigaram a ir para um cemitério mais próximo. Quando olhei o nome do lugar.. nossa que maravilha, o lugar em que meu pai foi enterrado... eu lembro muito bem do espaço... então falei

- Deixa eu só pedir uma coisa, vamos para um túmulo específico..
- HAHAHA! A gatinha tem exigência.. tudo bem

Então indiquei o túmulo do meu pai, seria perfeito acontecer o que eu estava prevendo ali.

Chegando lá, eles me pegavam em todos os lugares, eu sentia suas mãos sofridas de trabalho passando tocar minha sensível pele...suas bocas nojentas beijarem meu pescoço... e eu só conseguia ler o nome do meu pai no túmulo.. Uma lágrima saiu do meu olho... Senti o que nunca pensei em sentir, saudade. Saudade daquele retardado . Mas agora ele estava vendo o que eu estava vivendo e no que ele me ajudou a me transformar.

Enquanto aqueles homens gemiam de prazer usando meu corpo, eu pensava no que tinha feito durante minha vida inteira, o que eu conquistei... Sim, conquistei muitas coisas, principalmente força...Eu vi um toco de madeira grande ao lado do nome no túmulo do meu pai " Descanse em paz " ...

Observei e então peguei esse toco sem que aqueles macacos peludos percebessem, quando estavam cansados o suficiente para pararem e sentarem no chão conversando sobre a ótima gozada que tiveram, eu peguei a madeira e enfiei inteira nas costas de um deles, eu sentia seu sangue correndo em meus dedos, aquilo me dava um prazer gigante... Era como uma virgem ser tocada pela primeira vez... Com o corpo doendo mas o espírito feliz... Era a real sensação.
Os outros dois ficaram muito assustados e gritaram por algum tipo de socorro, tentaram me tirar de cima do outro.. Na mesma hora, peguei o canivete do que eu tinha "violentado".. E ameacei eles

- A bonequinha de porcelana adoraria machucar vocês.. Deve ser tão ruim perder seu próprio jogo, não ?

Então, enquanto o primeiro gemia de dor, eu passei o canivete em seu pescoço... como uma dança lenta... sentia seu gemido, agora de dor..

Os outros dois não podiam chamar a polícia, sabiam que eu sabia dos seus rostos e que eu era o que eles chamavam de "periogosa" .. O que restou para eles foi correr, o mais rápido que conseguiam.... Mas eu ainda acharia eles, em algum lugar..

Quando fiquei sozinha com o cadáver ... minha mão suja de sangue serviu para marcar a grama do túmulo do meu pai ...

" Obrigada por me transformar num monstro... assim eu aprendi a viver muito melhor do que qualquer objeto sensual feminino que não sabe honrar as saias que encurtam cada vez mais "...

Sim... eu agora iria atender as ligações do André.

sábado, 13 de outubro de 2007

capítulo 5 - o anjo

Depois da morte do meu pai a casa está mais tranquila, minha mãe vive no quarto chorando. Eu acho que ela está aprendendo o que a vida realmente quer dela e o que ela merece. Eu estava sentada novamente na janela e pensando no que começar para cumprir minha promessa ... mas ainda pensava naquele anjo humano, ele de alguma forma me intrigou.

Eu resolvi sair, peguei minha bolsa , meu casaco e meu mp3. Coloquei os fones e fui caminhar pelo parque que tem aqui perto de casa, o tempo continuava muito frio. E para minha surpresa, quem eu vejo na minha frente ? Aquele homem que vi no enterro do meu pai... Estava la sentado, com olhar para o horizonte .. Achei muita coincidência, mas sentei ao lado dele... E fiquei olhando para o céu, calculando claro, buscando alguma frase que se encaixasse naquele momento e fazer ele me enxergar como alguém bem simpática.

Mas enquanto eu pensava, ele atrapalhou meus pensamentos, como eu não suporto quando alguém faz isso, mas enfim...
- Eu estava no enterro do seu pai, você me viu né ?
- Vi, você o conhecia ?
- Ele era amigo do meu pai e sempre conversava bastante comigo
- Uhm, ok...
- Seu nome...é...
- Holly, isso ( e soltei um sorriso )
- O meu é André.. ( ele devolveu o sorriso )
- E tem quantos anos ?
- 19
- Eu tenho 18 anos...
- Eu sei, seu pai me contou tudo sobre você

Como eu tive vontade de rir nessa hora, o patético do meu pai não sabia nada de mim, então dois nadas juntos falando de mim, imagina o quanto era comica a cena.

- Entendo...Tá afim de tomar um café ? ( Minha promessa ia começa a valer agora )
- Claro...

Ele soltou o brilho do olhar que eu esperava. Usar os homens, especialidade tão prazerosa.

Quando chegamos na lanchonete que vendia café, sentamos um ao lado do outro, ele virou as pernas para mim. O corpo fala... Ele me quer

- Você é tão linda sabia ?
- Você acha? ( Claro que eu sabia , cantada ridícula )

Conversa vai, conversa vem... Ele pergunta se eu quero ir no cinema, eu respondi que não, preferia ir para a praça de volta ... O ar lá era mais puro, assim eu sentia um cheiro diferente e tinha algo mais para me distrair enquanto ele ficava me olhando.

Peguei minhas coisas novamente e quando estava virando, vi ele analisando meu corpo... mas não estava analisando como todos os homens idiotas que só querem sexo, ele tava com um brilho no olho que eu não conseguia identificar em meus históricos amorosos. Enfim, não importa.

Chegando lá na praça, ele começou a contar sobre a vida dele... Como é insuportável ouvir alguém que só fala fala fala fala.
A voz das pessoas é algo que realmente me irrita, eu odeio o som de palavras mal ditas, odeio quando dizem qualquer coisa só para não deixarem passa em branco uma oportunidade de atitude inteligente: Ficar Calado.

Eu via no André alguém perfeito para começar com a minha promessa, ele era lindo e cheio de sonhos. Alguém puro e cheio de brilho nos olhos, no meio da conversa idiota ele disse que queria casar e ter filhos, ser feliz para sempre. Eu preciso usá-lo, preciso...

Então resolvi beija-lo. Cheguei perto... muito perto, respirei perto da boca dele. Vi seus pelos do braço arrepiando. Perfeito assim. Mas aí eu desisti de beijar . E virei o rosto , mas ele voltou e ficou no ponto de fogo para me beijar. E então, pediu um beijo.

Espera aí, PEDIU UM BEIJO. Ele é viado ou o que ? Quanta estupidez para uma pessoa só, eu fiquei até sem palavras.

-- Continua --

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

capítulo 4 - a chuva

O dia nasceu frio, frio como um gelo, frio como o meu coração. Eu estava ainda me movendo na cama , tentando cobrir meu corpo com aquele fino cobertor... Nada parece deter o frio quando você pensa nele, isso também se aplica na vida. Se você pensa no quanto você está triste, no quanto você não presta, mesmo eu sabendo que você não presta mesmo, você continuará assim e continuará passando frio.

Eu sentei na janela, ela é baixa o suficiente para eu conseguir sentar lá e observar a névoa que se arrasta pela cidade. Fiquei pensando em quanto eu amo o frio, mesmo que isso traga uma certa dor inevitável, é gostoso.

Preciso de um café, isso, então me levantei , coloquei um camisetão e fui atrás de café, a casa estava vazia... Estranhei, aqueles dois sempre estão fingindo ser um casal lindo todos os domingos. Esse domingo eles não estavam lá. Estranho... Enfim, ignorei e fui atrás do meu café. Quando estava terminando de colocar o café na caneca, o meu telefone toca, atendo.. É minha mãe. Ela está com a voz tremendo, essa vaca não consegue falar direito nenhuma vez ? E então, quando ela recuperou a respiração, me disse com todas as letras.
- Seu pai... ele morreu, assassinado enquanto ia comprar pão.

Eu fiquei perplexa, como alguém pode ter uma morte tão sem graça ? Enquanto vai provar a pobreza de ir comprar pão ?? Como ele pode ser tão patético. Ela continuou

- Ele foi esfaqueado... E estava aqui no hospital tentando sobreviver, mas não conseguiu... nossa vida acabou minha filha

e então ela entrou em prantos, já eu... para manter minha máscara falei ' não acredito.... ' mas realmente não acreditava como ele não conseguiu se defender, gordo do jeito que era, tinha sangue para dar e vender. Sangue Humano, vida humana, tão descartável. Então desliguei o telefone.

Será que ele me deixou alguma coisa importante ? Ou talvez era tão pateticamente previsível que deixou uma pilha de filhos pelo mundo. E então, minha mae ligou novamente para eu me arrumar para o velório e enterro em seguida, o corpo estava muito destruído para esperar o dia seguinte.

Fui até o meu quarto, peguei meu vestido preto, meu preferido, ele me dava alegria. Coloquei óculos para manter os bons sentimentos da minha boa face e peguei meu guarda-chuva e sai atrás de um táxi. No velório não teve nada demais, eu estava com fome, comprei um refrigerante e fui ao banheiro comer. Olhei meu rosto, estava com uma espinha gigante, nossa, como eu odeio qualquer coisa manchando todo o trabalho que tenho de deixa-lo perfeito. Essas imperfeições só mostrariam como minha real face seria, demoniaca, cheia de cicatrizes e cheia de sangue. Entrei então em uma cabine, fiquei mijando e bebendo meu refrigerante, enquanto isso... eu escutei alguém entrar, chorando. Era minha avó , soluçando ao falar " Como vou viver sem meu filho ? "

E nessa hora, veio algo que eu desconheço, um aperto no meu coração, serão gases ? Analisei direito... Eu já tinha falado, que se eu tivesse um filho , uma parte minha, provavelmente teria sentimentos bons e assim, não queria ter . E imaginei o quanto deveria doer nela perder meu pai, tive pena. Pena não seria um bom sentimento certo ? Ufa...

Quando ela saiu e eu me recompus... e sai do banheiro.. Encaminhamos-nos para o cemitério.. um lugar muito bonito, muito verde, mas chovia muito, o céu estava muito nublado ainda e o cheiro da grama molhada era vivo em minhas narinas. Eu gostaria de poder tirar os sapatos, mas não era recomendado. Os pássaros estavam calados, como se soubessem que aquele era um momento de sofrimento para todas as pessoas, menos para mim. Acho que a natureza percebeu minha presença e mandou as piores condições climáticas para aquele momento. Era muita dor nos olhos da minha mãe , minha avó estava no chão. Eu ainda não tinha olhado para o meu pai desde que tinha me tornado uma adolescente, olhado de verdade, e não me deu vontade nenhuma de ter feito isso.

Quando o caixão começou a descer, eu tomei uma decisão, matar os sentimentos de todas as pessoas que passarem na minha frente, chega de ser indiferente, vou fazer uma diferença nesse mundo de merda, se elas não tivessem sentimentos não escutaria tantos gritos de dor agora, se elas não se importassem não estariam buscando em mim agora algum tipo de força. Essa é minha decisão. Hora de fazer diferença Holly. Hora de ser mais do que esses vermes que comerão a carne do meu pai ou as lágrimas da minha mãe.

Nesse mesmo instante, eu olhei para o horizonte e vi alguém.. Um rapaz, loiro, olhos azuis, corpo atraente, mas com os olhos manchados de lágrimas também, ele estava na frente de um anjo gigante de escultura, e então ele parecia aquele anjo, com asas. Difícil conseguir definir algo inexplicável.

Quando tentei enxergar melhor, minha mãe pegou na minha mão, como eu gostaria que ela não tivesse feito isso. E por fim, meu pai estava enterrado, pelo mundo nojento que vivemos ele morreu como um patético. Continuará isso em minha cabeça, mas a minha promessa está feita. O mundo será muito melhor de ninguém tiver bons sentimentos, só restarem pensamentos sobre si próprios.

Só estou um pouco confusa, o que aquele anjo fazia me observando em lágrimas ? Seria Deus me avisando de algo ou sinal de que Deus está chorando com minha decisão.

Acho que nunca saberei....

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

capítulo 3 - a escuridão

Hoje eu amanheci um pouco estranha, um pouco confusa. Enquanto pegava uma caneca com café eu tive a impressão de ver sangue em vez do preto. Olhei para os lados para ver se tinha mais alguém do lado para me confirmar aquilo mas não tinha. Quando olhei de volta, estava negro novamente e saindo fumaça com o mesmo cheiro perfeito de sempre. Ah, tudo bem... Deve ter sido besteira mesmo, não tem para que ter medo de nada, eu sou forte o suficiente para morrer.

O café não está adiantando muito, meus olhos continuam pesados, como se não conseguisse nem fechar e nem deixar aberto. Meu pescoço está incomodando, minhas costas estão doendo... realmente não acordei muito bem essa manhã. Acabou meu café... droga, não estou com forças para levantar e pegar mais.

Eu não estou lembrando de muita coisa , acho que dormi no sofá ontem... dormi ? Será que eu dormi essa noite ? Tive a impressão de recuperar a minha consciência agora há pouco. Uhm... Eu estou escutando um barulho muito esquisito nos meus ouvidos. Algo que realmente está me incomodando . Se prestar bem atenção parece com uma voz bem grossa... Eu não tenho a mínima idéia do que esse panaca está falando, parece um homem ? Foda-se. Vou tentar me concentrar novamente no que eu quero dizer.

Que inferno, o sol está batendo nos meus olhos, já falei para aquela idiota da minha mãe que preciso de cortinas, negras. Ela ainda acha que eu sou uma criança de 4 anos que precisa de cortinas rosa. Eu realmente gostaria que ela fosse devorada por uma planta carnívora, acho que seria excitante assistir essa cena.

Acabei de achar algumas balas jogadas na minha gaveta, acho que o doce pode animar um pouco o meu cérebro. Porra, esse sol que não me deixa em paz.

A luz do sol me incomoda , sempre me incomodou, aqueles raios penetrantes que entram no meu corpo parecem facas deixando cortes que ficam ardendo, arde de uma maneira que não tem fim, enquanto o suor aparece em minha testa, meu corpo precisa de descanso. Eu odeio ser descansada, odeio quando fico mole demais para me mover ou aproveitar o resto do meu dia. Enquanto você precisa dizer " Nossa, que dia maravilhoso, quente " , eu estou desejando que você queime.

Apesar de que algumas vezes eu me sinto queimando por dentro, mesmo quando o sol me deixou em paz. Essa com certeza é a pior hora da existência. Queimando em raiva, queimando em ódio, como se faltasse respiração... é tão simples entender, se me tocarem naquele momento eu tenho certeza que se queimarão também. Às vezes eu fico em chamas , buscando destruir tudo que encontrar pela frente, outras vezes em chamas para tirar alguma coisa desnecessária dentro de mim. Enfim, isso é uma grande merda... Eu realmente preciso do gelo, do frio, da noite.

A noite me deixa mais segura , eu gosto da escuridão, eu gosto da sensação no inexplicável, justamente por não ter explicação as pessoas não enchem o saco para eu explicar nada, como elas tem medo elas não perguntam. As pessoas tem medo da verdade, em todos os seus discursos hipócritas elas sempre dizem que o que mais odeiam é mentira e falsidade, mas não aguentam ouvir a verdade. Se eu falar para alguém que gosto do gosto do sangue e que preciso sempre me cortar para vê-lo sair de mim e eu conseguir cheira-lo, essa pessoa vai ficar em choque, achando que eu sou o pior de todos os seres e que sai do que elas chamam de padrão. Eu odeio tudo que seja aceito por todos. A justiça mundial, o que vocês humanos idiotas chamam de ética. Ética na sociedade, ética nas empresas, ética ambiental, grande bosta, vocês não tem ética no seu lado animal. Por que tentam tanto se separar da natureza em dizer que são superiores aos animais ? Eu acho mais interessante os animais irracionais do que as pessoas. Eles são mais sinceros e não tem vergonha de mostrar sua fúria ou seu carinho a qualquer hora e em qualquer espaço.

A chuva também me atrai, ela parece muitas lágrimas unidas, e eu gosto de lágrimas, dos outros claro, mas gosto. Uma grande tempestade. Eu admiro a natureza... Ela é muito perfeita em si própria, ela nos dá o direito de sermos pessoas boas ou ruins, é tudo uma questão de escolha. Se eu escolher a noite, terei a noite, se eu escolher o dia, terei o dia, tudo em seu tempo e em seu espaço devido, não que isso signifique que quem goste mais do dia sejam boas pessoas e quem goste mais da noite sejam ruins, apenas personalidades diferentes. Eu não sou uma boa pessoa, amo a noite e a tempestade. Isso me dá muito prazer.

Eu realmente não sei porque estou falando tudo isso hoje, estou entrando em espaços que eu não gostaria de expressar, porque não tem a mínima necessidade. Escrever agora está me dando um pouco de dor de cabeça. Gostaria de dormir novamente e ter os meus pesados pesadelos, em que eu estou sempre correndo de algum demonio, ele nunca consegue me alcançar, eu sou mais forte do que a dor e do que o medo, por isso sou intocável às palavras humanas. Por isso eu preciso ter minhas velhas manias e velhas mascaras, assim a verdade não aparece, eu consigo evoluir cada vez mais e dominar mais ainda um espaço só meu.

Eu não interfiro no espaço de ninguém, apenas não interfira no meu. Eu nunca tive inveja, acho que isso é um ponto positivo. Justamente por não precisar de ninguém, eu não invejo espaço e nem coisas dos outros, assim eu estou sempre focada em mim. Eu preciso do meu tempo, do meu espaço.

O tempo é uma coisa idiota de se pensar, a humanidade acha que o tempo cura tudo, só não percebem que ele é mais uma ilusão de prioridades. Você escolhe dar prioridade para outras coisas apenas, e o que não era verdadeiro vai sumindo. Simples assim.

Ontem eu tive um pouco de raiva de mim, tava assistindo um daqueles filmes idiotas que já mencionei que gostava de assistir para conhecer mais das coisas que as pessoas dão tanto valor, e então, quando estava assistindo, na hora que o namorado da mocinha principal morreu, eu quase tive uma vontade lá no fundo de ficar triste, como isso pode acontecer? Eu sei que eu posso um dia sentir algum bom sentimento, mas eu espero matá-lo a tempo de fazer algum dano em mim. Sentimentos prazerosos só servem para dar saudade, e para ficar querendo sempre mais dele, e quando um dia terminar toda a magia, só restará sofrimento.

Por isso eu escolhi não alimentar nada bom em mim, porque sei que fará falta depois. Não consigo amar meus pais e não consigo amar quem diz me amar, mesmo que eu tentasse, eu sinto que falharia. Eu não posso perder nada que tenha valor para mim, portanto não posso tornar coisas tão descartáveis como humanos algo que seja de importância para mim.

Enfim, vou tentar dormir um pouco... essas vozes não me deixam em paz.



quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Capítulo 2 - do Crescimento até a Estagnação

Depois que eu comecei a escrever sobre minha conturbada vida, eu comecei a perceber coisas que antes não tinha noção que poderiam existir. Anteriormente eu falei que não possuía qualquer tipo de sentimento, eu me enganei. Eu tenho sentimentos, apenas são sentimentos péssimos, ruins e que de certa forma eu tenho orgulho em tê-los. Minha repulsa pela humanidade surgiu quando eu ainda era uma criança, acho que na hora que o medico me tirou da vagina da minha mãe, quase sufocada pelo cordão e totalmente roxa, eu já sabia que a partir dali minha vida seria isso, sempre tentando sobreviver ao o que a vida me aprontaria.

O meu desprezo pelas pessoas foi crescendo a medida que eu fui me tornando suficientemente capaz de viver sozinha. Essa dependência da humanidade me causa náuseas. Todos estão sempre procurando um motivo para sorrir ou parar chorar, esquecem de viver a vida como ela realmente é para ser, vivida. Se você fica se preocupando em demonstrar alguma coisa para alguém, você está perdendo tempo de fazer outra coisa, como por exemplo cagar, fazer pipoca ou sei lá, rir vendo televisão. Por isso eu não perco tempo com ninguém, meu tempo de vida é precioso demais para eu ficar desperdiçando em ficar explicando meus sentimentos, minhas falhas , minhas qualidades para alguém que com certeza nunca vai me entender por completo, e com certeza vai tirar conclusões antes mesmo de eu terminar minhas frases.

Eu escrevo como um desabafo para mim, a partir do momento que eu leio todas as minhas paranoias, eu me conheço mais, e a medida que eu me conheço mais, mais eu tenho orgulho e noção do que eu me tornei e do que eu quero me tornar. Não faço isso por quem está lendo, pouco me importa se você vai se identificar ou se você vai me achar uma vadia , o que você faz com essas palavras não me interessa, o que me interessa é apenas seguir um ponto estabelecido por mim mesma. Quero fazer, então faço. Não quero fazer, então não farei. Tão simples assim, por que precisa pedir autorização à alguém para ir na esquina comprar um cigarro? As pernas são minhas, a boca é minha, o pulmão é meu . Não nasci para ser um passarinho da humanidade, os passarinhos são lindos de se ver e de se ouvir, talvez porque eles não possam fazer nada além do que isso. Com essa razão eu sou uma lâmina, eu corto sem pena, assim talvez alguém aprenda a respeitar o meu espaço, forçado, mas aprende.

Voltando ao meu foco principal ao pegar esse papel e esticar essa folha de velharias dos meus pais que tentam ser contadores, de merda, mas tentam. Eu nunca apreciei bons sentimentos em mim, quando alguma coisa tentava surgir eu esfaquiava com toda a força que eu possuía, bons sentimentos só servem para que os piores venham a surgir depois com mais poder. Eu escolhi viver assim, mas eu não escolhi ser uma pessoa que só pensa na escuridão. Às vezes me incomoda ficar analisando tudo com o pior dos olhos, não que eu queira ver algo bom, mas gostaria apenas de ser mais indiferente ainda do que eu sou, ver alguém morrer e não ter prazer de ver isso, apenas seguir em frente, mas eu não consigo. De certa forma eu sinto um prazer gigante ao ver alguém sofrer por ser idiota, os idiotas me irritam, quem busca demais a perfeição, acaba se tornando um babaca, e os babacas também me irritam. Existem poucas coisas que eu gosto e muitas coisas que eu simplesmente odeio.

Outras vezes, eu consigo o que eu mais admiro existir, ser indiferente. Se quer errar, erre, se quer acertar, não me importa. Eu sei que de alguma forma existe uma razão para eu ser rodeada de pessoas patéticas, e essa razão é : Desenvolvimento Pessoal. A partir da análise de o quanto um ser humano é desprezível, eu aproveito mais a minha vida e mudo o que seja em mim para ser alguém que tenha mais prazer e respeito por mim.

Hoje, eu estou estagnada em desenvolvimento, acho que a razão disso é ter visto já tanta porcaria , que acabei enjoando. Eu pego nojo muito fácil, de tudo que não se move a tempo. Preciso conhecer coisas novas, sabores novos. A idéia de que sempre tudo pode ser pior me excita. A dor me excita. Fazer algum homem sofrer e sentir prazer por vingança me dá uma satisfação gigante.

Eu tenho senso de justiça, a minha claro, mas tenho. Como já citei, sinto coisas boas ao ver alguém sofrer, mas ao mesmo tempo gosto de me vingar de quem maltratou alguém, porque assim terei mais dor, tanto da pessoa ferida, quanto do que eu vou ferir. Veja como isso funciona, ao me vingar eu terei a gratidão da pessoa ferida, assim, mais formas de conseguir coisas para mim. Mas claro que eu não vou deixar transparecer isso, uma boa máscara sempre está repleta de bons sentimentos.

Eu fico pensando se o que eu me tornei tem alguma coisa a ver com meu passado. Não sei realmente. Minha infância foi cheia de mimos. Minha mãe sempre muito preocupada em me defender do mundo tentava me prender em casa, colocando fitas no meu cabelo e ao mesmo tempo descontando em mim as frustrações de um casamento falído em que meu pai estava mais preocupado em comer mulheres variadas do que se importar com a dependente que vivia por ele. Eu até concordo com meu pai, se eu tivesse alguém dependente em minha cola, teria muito prazer em fazer sofrer. O único problema do sofrimento da minha mãe, é que ela descontava isso em mim. Ela tinha ataques nervosos, tentava me encher de bons sentimentos, quando tudo que eu queria era que ela calasse a boca. Que amor ilusório ela parecia sentir, dizia tanto me amar, mas na hora que meu pai chegava me abandonava com minhas bonecas e ia ficar ao lado dele, mesmo ele nem olhando em seus olhos ou apenas tendo interesse de um bom sexo no final do dia. Aquele sentimento de solidão e repulsa foi criando em mim um nojo de casais. Eu odeio pessoas que vivem para fazer alguém feliz. Faça-se feliz porra ! Se eu tivesse um filho, eu acho que conseguiria ter bons sentimentos por ele, então por isso não tenho e nunca quero ter .

É, agora eu vejo que revirando o passado, de tão enterrado que eu o cavei, agora eu sinto que existem motivos para ser o que eu sou. Uma família fracassada que visava apenas a boa visão diante da sociedade. Eu calada para não ser interrompida em meus pensamentos. Mas sinto que falta algo em minha memória para a escolha de um caminho diferente de todos, talvez isso tenha já nascido comigo, como já falei, não era para eu nascer. Minha mãe quando soube que estava grávida forçou meu pai a se casar com ela, se eu fosse ele teria cortado sua garganta e jogado ela no rio mais próximo, faria um favor a sociedade não me colocando no mundo. Eu não me odeio, orgulho-me do que me tornei, porque fiz sozinha. Mas também sei que não faço nenhuma diferença boa para Deus ou para o mundo, isso em alguma época da minha vida poderia me deixar triste, mas não deixa.

Sou bem contraditória, nossa como isso é excitante, fazer você pensar que eu me amo e ao mesmo tempo me odeio. Como é perfeito os olhos de contradição que percebo ao ler cada frase dessa. Imaginar que por trás estão tirando conceitos tão gostosos de se saber. " Ela é uma infeliz que nunca recebeu carinho e amor " ou " Ela é demoniaca, teve tudo e ainda sim é alguém ruim " . Como isso é gozante. Eu recebi toda atenção que uma criança possa querer, tinha tudo nas minhas mãos que eu quisesse, meu pai tentando se redimir com o que fazia com as mulheres, fazia da Holly aqui seu brinquedo de carinho. Eu gostava disso, assim conseguia mais e mais coisas para mim. Minha mãe, como já falei, era patética, mas também fazia tudo por mim.

Todo mundo queria cuidar de mim, e tudo que eu queria era sair dali. Não tive irmãos, graças a Deus, eu mataria qualquer um que quisesse dividir as coisas que eu recebia.

Melhor assim... Aos poucos estou me conhecendo mais, talvez ache daqui por diante algum trauma de infância, ou não ! Com meu crescimento pessoal, o meu desenvolvimento psicológico enterrou muitas coisas, que eu espero encontrar e assassinar qualquer indício de coisas boas.

Minha mãe acabou de me comprar novas roupas, não sei se eu agradeço e solto um sorriso fofo ou se mando ela sair do quarto agora porque ela comprou roupas horrorosas, assim talvez ela tenha vontade de ir la se redimir pelo erro de não fazer o suficiente. Eu nunca estou satisfeita, isso é errado ? Se eu me satisfizesse ficaria estagnada não? E então, pobres humanos, onde está a tal vontade de crescimento que tanto falam, onde está a ambição que tanto buscam ? Admitam seus egoísmos, assim talvez consigam o que querem sem ninguém encher o saco.


Droga, o papel acabou. Cansei por hoje.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

capítulo 1 - o mundo e holly

Gostaria de ser chamada pelo meu nome real, não, na verdade eu não gosto de como eu me chamo, portanto criei um nome falso para adotar como meu. Coisas inventadas pelo cérebro humano às vezes me atraem. É incrível a capacidade de gostos diferenciados que se possui, para uns o céu deveria ser verde, outros o céu devia ser azul mesmo, acostumados com o usual e simples, já para mim, o céu deveria ser vermelho, vermelho como o sangue que corre na minha veia e que eu sinto tanto prazer em saber que ele existe. Enfim, já estou indo para o meio da história sem antes começar me apresentando como alguém que possui um nome, falso, mas um nome. O nome que adotei é Holly, tenho 18 anos, sou magra, tenho cabelos lisos e negros como os olhos da escuridão, meu lábios são vermelhos( como eu odiaria não tê-los ), minhas unhas são grandes , como de uma garota comum, tenho feições finas, ombros finos, cintura fina, não gosto muito dos meus pés, não entendo porque eles não podem ser um pouco maiores, isso é estranho, todos querendo ter pés menores e eu analisando como os meus seriam mais bonitos se fossem maiores, tenho a pele branca, como a neve, isso trás as minhas rosadas bochechas, meus olhos são negros e um pouco puxados. Todos diriam que eu seria um tipo perfeito de garota, eu tenho noção de que sou bonita, mas uso isso como uma máscara para o que eu realmente sou por dentro. Minha alma, essa é obscura.

Eu não tenho sentimentos por ninguém, nunca tive. A única vez que eu pensei que estava começando a sentir foi quando meu sapo, frodo, começou a agonizar depois que eu joguei sal nele após um ataque de raiva que eu tive dos meus pais. Eu acho que cheguei a me arrepender por alguns segundos, mas a vontade logo passou. Meu coração com certeza é feito de pedra, e de pedra ele sobrevive. Acho que por alguns outros segundos eu já tive vontade de chorar, quando eu rasguei pedaço do meu braço numa lâmina da fábrica do meu avô só para saber como seria a dor, já que todos me defendiam tanto do mundo. Acho que aquela foi a primeira e última vez que eu soube o que era uma vontade de chorar.

Amor, eu não sei o que é, não consigo imaginar como é deixar de atender seus próprios interesses para atender vontade de alguém, não sei o que é passar tardes abraçado com alguém, tenho um certo nojo do toque de alguém se for prolongado por muito tempo e com aquele cuidado todo que alguém que ama possui. Já percebeu que as pessoas que amam sempre estão buscando algum motivo para amar mais e não deixar transparecer a dor que o amor também traz ? Pessoas estão buscando derrarmar seus corações pelos outros e aguentar as consequências de serem magoadas. Como o mundo é patético.

Olho para os lados e vejo muitas pessoas que não valorizam a vida, não valorizam o fato de respirar, não é porque não tenho amor por ninguém que eu não tenha fé, ou que não possua uma valorização do que me foi concedido. Uso tudo que possuo como uma arma para o que eu chamo de felicidade optativa. Eu escolho me mostrar feliz ou triste, consigo o que quero e fico feliz.

Tudo que eu acredito sempre está ligado à algum sentimento que as pessoas chamam de "impuro" ou "cruel" . Quantas vezes eu já morri de rir por dentro ao ver alguém chorar com minhas palavras "cruéis", como as pessoas são patéticas, como elas se importam tanto com algum estranho, como elas conseguem destruir seu ego por tão pouco. Eu não ri por desprezo, mas do quanto eu estava certa.

Se eu já tive namoros ? Sim, já fiquei com pessoas por algum tempo, enquanto elas me davam algo que eu precisava. O corpo às vezes precisa de toque, mesmo que eu tenha nojo de coisas repetitivas. Eu já fiz sexo porque estava com tesão e não porque ele seria o homem perfeito para sempre em minha vida. Acreditar em príncipes encantados é só uma forma de tentar ver a vida de uma forma bonita e que te trará coisas boas. Acredite, se algo pode dar errado, vai dar, tenha apenas uma solução para isso. Enquanto eu tentava sentir coisas pelos meninos que eu beijava, no ato do beijo eu estava pensando em quanto eu queria comer um brigadeiro naquele momento.

Eu gosto de ver filmes, eu gosto de ver mocinhos sendo felizes com mocinhas, mas só naquela tela, porque ali vai terminar em 1 hora ou 2 horas, então não vai dar tempo de eu começar a achar tudo muito patético. A felicidade é algo admirável, mas se prolongado, enjoa e se torna rotina. Rotina, como eu odeio essa palavra. Se eu fizer sempre os mesmos movimentos, eu tenho impressão de que sou um joão bobo andando em círculos em busca de um tipo de prazer ilusório.

Como diferenciar realidade da ilusão ? Pense em como seria se cortar e não sentir dor, isso é ilusão, coisas que possam machucar, mas não machucam. Agora corte-se e sinta a dor, essa é a realidade. Não adianta idealizar que você nunca vai se ferir, você vai.

E eu sigo aqui, alguns testemunhos da minha vida.